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Estudo prova que o chá de alecrim alivia cólicas menstruais?

21 Fev 2024 - 10:25
falso

Estudo prova que o chá de alecrim alivia cólicas menstruais?

O chá de alecrim é apresentado no TikTok como uma boa “alternativa natural para aliviar doresmenstruais. A autora do vídeo alega que “um estudo mostrou que consumir chá de alecrim, duas vezes ao dia, durante o período pré-menstrual e menstrual, tem um efeito semelhante a tomar um medicamento analgésico”. Mas será mesmo assim?

É verdade que um estudo provou que o chá de alecrim alivia dores menstruais?

A resposta é não. Quem o diz, em esclarecimentos ao Viral, é Fátima Palma, especialista em ginecologia e obstetrícia e Presidente da Sociedade Portuguesa da Contraceção (SPDC).

Em primeiro lugar, o estudo em questão é um ensaio clínico, intitulado “Comparação entre cápsulas de alecrim e de ácido mefenâmico na hemorragia menstrual e na dismenorreia primária”, e, tal como o título indica, estudou o efeito de cápsulas de alecrim e não do chá de alecrim.

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No estudo sugere-se que “as cápsulas de alecrim reduzem a hemorragia menstrual e a dismenorreia primária da mesma forma que as cápsulas de ácido mefenâmico”.

No entanto, não se pode extrapolar os resultados das cápsulas para o chá. O potencial efeito das cápsulas nunca será o mesmo que o de um chá, porque, refere Fátima Palma, “a concentração do extrato de alecrim em cápsulas vai ser sempre muito superior à de um chá”, esclarece. 

Assim sendo, não se pode dizer que a investigação citada prova que consumir chá de alecrim alivia as dores menstruais da mesma forma que um anti-inflamatório.

Segundo a Presidente da SPDC, o que se pode concluir deste estudo é que o extrato de alecrim, administrado em cápsulas, “aparentemente, pode ter propriedades analgésicas e antiespasmódicas”, mostrando-se potencialmente “eficaz não só a reduzir o fluxo menstrual, mas também a aliviar a dor menstrual”.

Ainda assim, importa sublinhar que o resultado de um único estudo não é suficiente para provar a eficácia de um determinado remédio.

Que medidas de conforto ajudam a aliviar as cólicas menstruais?

O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG, na sigla inglesa) explica, numa secção de perguntas e respostas do seu site, que “a dor que surge antes ou durante o período menstrual” chama-se “dismenorreia primária”.

“Esta dor é causada por substâncias químicas naturais chamadas prostaglandinas, que são produzidas no revestimento do útero”, adianta a associação. 

Algumas mulheres têm apenas “uma dor ligeira”, enquanto outras têm uma dor “tão intensa que as impede de realizar as suas atividades normais durante vários dias do mês”.

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Fátima Palma adianta que, para aliviar estas dores, por norma, “prescreve-se um anti-inflamatório, que pode ser o ácido mefenâmico (referido no estudo) ou o ibuprofeno, por exemplo”.

Contudo, é preciso saber a altura certa para tomar esta medicação. A especialista salienta que “os medicamentos anti-inflamatórios, para serem muito eficazes, têm de ser tomados no início da dor”. 

Isto porque o mecanismo destes medicamentos “é impedir o ciclo da dor”. Por isso, “se a pessoa tomar o medicamento numa altura em que já se libertaram as substâncias que provocam a dor, ele já não vai ser tão eficaz”. 

O que acontece, muitas vezes, é que “algumas pessoas não querem tomar medicamentos e adiam a toma ao máximo”. Quando, finalmente, tomam, “já estão com a dor há algum tempo” e, nesta fase, a medicação “já não vai ser tão eficaz”, sustenta.

Além disso, há outras medidas que podem ajudar no alívio das cólicas menstruais. A título de exemplo, Fátima Palma recomenda que não se ingira muitas “bebidas estimulantes”, como “Coca-Cola e café”.

Por outro lado, “comer alimentos ricos em ómegas, como o atum e a cavala, parece ajudar a melhorar a dor menstrual”, prossegue.

Além disso, acrescenta a médica, “fazer exercícios de alongamento e colocar um saco de água quente” na barriga também pode ser benéfico no combate à dor.

Segundo um texto informativo do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla inglesa), outras técnicas eficazes neste contexto são: “tomar um banho ou duche quente”; “massajar a barriga e as costas”; e “fazer algum exercício suave, como ioga, natação, caminhada ou andar de bicicleta”.

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O NHS salienta ainda que “reduzir o consumo de álcool” e “não fumar” também “pode ajudar a aliviar as dores menstruais”.

Noutro plano, Fátima Palma refere que, “de forma geral, todos os métodos contracetivos hormonais (como a pílula) diminuem a dismenorreia”.

Caso haja “um agravamento da dor que perturbe a qualidade de vida da pessoa” é prudente “procurar ajuda”, para “excluir outra causa associada” a esta sintomatologia, conclui a especialista.

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21 Fev 2024 - 10:25

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